Márcio Fernandes
Juiz OBJO
Como alimentar meu canário?
Todos sabemos que o canário é um pássaro granívoro, e que uma mistura de sementes composta de alpiste,
colza, aveia, linhaça, níger, nabão entre outras, é, por si só, suficiente para manter o canário bem alimentado
e saudável por toda a sua vida.
O nosso problema começa quando pretendemos usar estes canários para procriação. Neste processo as exigências
alimentares são maiores, havendo necessidade de complementação alimentar.
Há alguns anos, a decisão sobre a complementação alimentar a ser utilizada era, quase sempre, baseada no sucesso
de algum criador amigo.
A farinha de rosca, farinha láctea, neston e fubá de milho eram, com freqüência, componentes da "fórmula mágica" que
utilizávamos sem conhecimento dos princípios nutritivos destes alimentos e das necessidades dos canários.
Eram verdadeiras "farinhadas", definidas sem nenhum critério técnico mas, mesmo assim, guardadas a sete chaves e
passadas como importante segredo, responsável pelo sucesso da criação.
Com o crescimento da canaricultura, foram disponibilizadas no mercado dezenas de rações comerciais (não mais
farinhadas), com base nos melhores conceitos de nutrição animal, para atender às diversas necessidades.
E agora? Com tanta alternativa, como escolher o que é melhor para nossos canários?
Este é o tema deste artigo.
Fases da vida dos canários x Necessidades nutricionais
Como todo ser vivo, nossos canários têm necessidades diversas em função da etapa de vida que estão experimentando.
Durante a criação - fase mais crítica - de esforço intenso por parte das fêmeas, e necessidades específicas de crescimento
e formação dos filhotes, a necessidade por determinados nutrientes é muito maior, por exemplo, do que durante a fase de
repouso, logo após a muda.
Na muda, com formação e troca intensa das penas, e alterações significativas no metabolismo das aves, também as
necessidades são bem diversas das outras fases.
Em resumo: os alimentos fornecidos aos nossos canários devem ser ajustados e adequados, o mais possível, às
solicitações de seu organismo, nas diversas etapas da sua vida. O que significa rações diferentes para diferentes épocas.
De maneira simplificada podemos definir como pelo menos três as fases mais importantes, em que a alimentação deve ser
ajustada: criação, muda e repouso.
Alimentos x Princípios nutritivos x Ração balanceada
Alimento é um composto de nutrientes, com seus efeitos sobre o organismo medido por princípios nutritivos.
Ração balanceada é aquela em que os diversos princípios nutritivos estão em tal proporção que a mistura atenda de forma
completa a todas as necessidades nutricionais do canário.
Complicado, não é?
Bom, é um trabalho para o técnico nutricionista. Aquele que vai formular a ração que nós vamos usar.
Nosso problema passa a ser o de se escolher, entre as rações disponíveis, a que melhor atende às necessidades do canário
naquele momento.
Nutrientes ou princípios nutritivos - o que significa isto?
Princípios nutritivos ou nutrientes são classificações usadas para os diversos tipos de alimentos de forma a definir os efeitos
destes sobre o organismo.
Eles são: proteínas, carboidratos, graxas ou lipídeos ou extrato etéreo, fibras, água, sais minerais, vitaminas,aditivos.
As proteínas são essenciais em todas as fases, porém, durante o período da criação, uma insuficiência pode determinar
o insucesso do nosso empreendimento.
A velocidade de crescimento dos filhotes, sua saúde, a predisposição com que a fêmea alimenta seus filhotes e o
"aprontar" dos casais, está relacionado à adequação do teor das proteínas nesta fase.
Os carboidratos e lipídeos fornecem energia. A água, bem como os sais minerais e as vitaminas, são essenciais ao
metabolismo e ao funcionamento adequado do organismo.
Os teores dos diversos princípios nutritivos estão expressos nas embalagens das melhores rações comerciais, e serão
elemento importante no processo de avaliação e escolha da ração a ser usada.
Fases da vida do canário x Limites dos princípios nutritivos
Com base nas experiências de vários institutos de pesquisa, bem como na experiência de vários criadores com interesse em nutrição, relacionamos alguns limites:
PRINCÍPIO NUTRITIVO CRIAÇÃO MUDA REPOUSO
Min Máx Min Máx Min Máx
TEOR DE PROTEÍNAS 16,0 18,5 14,5 15,5 12,0 13,5
LIPÍDEOS (%) 4,0 5,0 8,0 11,0 7,0 8,0
ENERG.METABOLIZ (Cal/Kg) 2200 2600 2600 2900 2900 3350
SAIS MINERAIS Min Máx Min Máx Min Máx
CÁLCIO Ca (%) 1,1 0,9 0,9
FÓSFORO P (%) 0,6 0,5 0,5
RELAÇÃO Ca/P 1,65 1,90 1,70 1,95 -- --
VITAMINAS P/Kg DE RAÇÃO Min Máx Min Máx Min Máx
A (UI) 20.000 18.000 15.000
D3 (UI) 3.000 3.000 3.000
COLINA (mg) 600 600 400
BIOTINA (mg) 0,3 0,4 0,2
Relações importantes no balanceamento das rações
Duas relações são essenciais no ajuste das rações ao período de vida das aves:
A energia metabolizável dos alimentos (que expressa a energia que realmente é absorvida pelos canários) dividida pelo teor
da proteína bruta ingerida. Expressa pela fórmula abaixo:
EM / PB = ENERGIA METABOLIZÁVEL (Kcal/Kg)
PROTEÍNA BRUTA
RELAÇÃO NUTRITIVA (RN) = % CARBOIDRATOS + LIPÍDEOS x 2,25
% PROTEÍNAS
Os limites desejados para as diversas fases são os seguintes:
RELAÇÃO EM / PB RELAÇÃO NUTRITIVA
CRIAÇÃO 137 a 140 RN=3
MUDA 165 a 190 RN=4
REPOUSO 240 a 250 RN=5
Em resumo, o que expressam as relações acima:
Durante os períodos de cria, reduz-se a energia das rações fornecidas (Carboidratos + Lipídeos x 2,25) e aumenta-se o teor
de proteínas.
Como os animais se alimentam até satisfazer um determinado nível de energia (energia metabolizável), reduzindo-se a energia
fornecida na ração os canários naturalmente vão comer mais, absorvendo, desta forma, maior quantidade de proteína que
transferirão para os filhotes, fazendo-os crescer com maior velocidade.
Durante os períodos após a muda, quando os canários necessitam de maior quantidade de energia para seus exercícios nas
voadeiras, eleva-se o nível fornecido de carboidratos e/ou lipídeos, reduzindo-se o teor de proteína, o que resulta em uma
relação EM / PB maior.
Infelizmente, a grande maioria das rações para canários não fornece o valor da energia metabolizável das suas formulações,
o que limita as nossas análises aos teores de proteína e de lipídeos ou extrato etéreo.
Aos interessados só resta solicitar aos fabricantes estas informações, sonegadas nas descrições dos produtos.
Vale lembrar que de um modo geral são fornecidos os teores de:
UMIDADE - Mede a quantidade de água.
CINZAS - Medida da quantidade de sais minerais.
FIBRAS - Indicam a quantidade de fibras, que não são absorvidas pelo organismo
das aves, ajudando a aumentar o bloco fecal e as áreas de contato dos alimentos com os intestinos.
A decisão de usar determinada ração deve ser precedida pela leitura na embalagem de sua composição e verificação de que os
princípios nutritivos sejam adequados à fase de vida em que se encontram os canários.
Cuidados devem ser tomados na troca de uma ração por outra, para se evitar mudas extemporâneas. A passagem de uma para
outra deve ser gradativa.
Uma forma mais simples é decidir por uma ração que tenha os parâmetros intermediários e ajustá-la para cada fase pela
adição de provedores de proteína e/ou energia.
Este procedimento envolve o conhecimento dos teores dos alimentos, e deverá ser tratado em outro artigo.
CONCLUSÃO
O objetivo principal foi chamar a atenção dos criadores para um item fundamental para o sucesso de sua criação: a alimentação
adequada.
Sua importância é agravada pelo alto custo que envolve.
Este é um assunto que exige cada vez mais atenção, para evitar que uma escolha inadequada da ração leve a uma relação
custo / benefício desfavorável ao criador.
DICA PARA PRINCIPIANTES
A alimentação complementar dos filhotes deverá ser ministrada, mais ou menos vezes, dependendo da
freqüência com que a fêmea alimenta os mesmos.